quarta-feira, 15 de julho de 2009

O meu amigo M.

Tenho um amigo, que apesar de ser pobre gostaria de ser muito rico. É um artista, no mais verdadíssimo sentido da palavra. Nunca conheci ninguém como ele. É um espécime único, por assim dizer. De volta ás minhas pobres memórias, lembro-me de como era passear com o M. na rua, de chapéu preto de virola, camisa muito justa, entreaberta até meio do peito. Um personagem digno de qualquer filme de Almodóvar. O M. nunca trazia uma garrafa de água na mala, trazia um biberon cheio de leite. No dia em que me aventurei a dar uma volta de bicicleta com ele, apareceu-me todo nu em cima da dita bicicleta. O M. dizia mal das pessoas á frente delas, sempre que podia cravava cafés e boleias, bebia água da mangeira com a língua de fora e tinha a extravagância de um Castelo Branco pobre.

Nunca mais o vi nem encontrei, mas julgo que deve morar no mesmo apartamento na Avenida de Roma, estacionar a dita bicicleta á porta e fumar onde e quando menos convém.

O meu rico amigo, pois amigo rico nunca o será trabalhara em tempos como aderecista, mas deixara de conseguir trabalho muito antes desta crise se apoderar de tudo, motivo pelo qual começou a frequentar um curso do Centro Emprego. De trejeito posto na pose, referia-me então acerca do dito curso: Que horror, aquilo é em Odivelas! Só gente pobre!












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