Quando Napoleão questionava sobre os seus generais nunca perguntava se eram eficientes ou competentes. Perguntava antes se tinham sorte.
Quando trabalhei como estagiária para a Rinkogun, a companhia de teatro dirigida por Yoji Sakate, em Tóquio, no Japão, aventurei-me a passar o oceano sabendo um nível bastante medíocre da lingua, visto existirem na altura muito poucos professores nativos.
Ao início, os meus colegas olhavam com estranheza o facto de dia após dia, permanecer sorrateira nos ensaios, sem perceberem quem era e o que queria. Em pouco ou nada me deixavam trabalhar, não confiando nas qualidades que poderia ter como artista plástica, como aderecista ou o que quer que seja. Nada do que eu pudesse mostrar era válido para os olhos dos colegas. No meu japonês mediocre consegui ouvir a alguem a palavra kimochi. Pesquisando no dicionário encontrei a tradução: sentimento. A explicação derradeira para tamanha frieza era o meu sentimento para com o global do grupo. Não tinha ainda conseguido apreender o aroma do grupo, etapa sem a qual seria por demais difícil de saber o que era pretendido. Como muitas vezes, os japoneses comunicam por anmoku no ryokai, ou seja por entendimento não verbal ou muito pouco verbalizado, a partir de então passei a ligar-me muito mais intuitivamente aos outros do que normalmente faria. Digamos que metade do que precisaria de saber para realizar uma tarefa estava adquirido. Porém, a tudo estava longe de ser fácil. O calvário do domínio da lingua é longo e foram precisas horas e horas de esforço diário para ver avanços efectivos na linguagem que se possa usar na vida diária.
Não importa o que já se fez. Importa sim aquilo que se está disposto a fazer.
As manias não servem para nada. Ocupam espaço, trazem dissabores e são muito pouco estéticas.
Dizia Yoji Sakate: Relax, but stay a little tense; Relaxa mas permanece um pouco tenso.
Nunca se sabe quando estamos prestes a errar.
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